RECADO


quando eu for pintem a casa
troquem os móveis
lavem as lembranças
queimem roupas e sapatos
bolsas e  outros apetrechos
não deixem pedra sobre pedra
sequer um fio de cabelo
esterilizem o ar que respirei
despetalem as flores
quebrem os copos nos quais a minha boca pousou
joguem no lixo os restos de sabonete
derramem os frascos de perfume
rasguem os livros e zombem dos poemas
quebrem os pratos
mudem de endereço
não me levem no peito
nem na mente
jamais olhem para trás
nem ouçam meus passos na escada
lancem no oceano as fotos
sintam o calor do sol
a juventude das nuvens
o torpor da música
o abraço acolhedor das árvores
a resposta do silêncio
 
Tânia Meneses
Agosto de 2007
 

Poema representativo de um pedido perante a realidade da morte.

Aracaju, em algum lugar da cidade.

Tânia Maria da C. Meneses Silva
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