Pra você compreender o quanto te amo

Você, compreender quanto amo, mandaria poesia e-mail,
Embora amor louco, irracional, desmesurado, imaterial,
De mim, do que de ti, palavras confusas, recados apressados,
Leituras rápidas e risadas febris,
Vamos, levando a vida, assim, tu e eu, entre recados vis.
Saudade que arrebenta,
Não dito que risca, rasga, por dentro,
Afago não teve, mãos e lábios anseio
Minha mão, braços, assim, corpo e alma,
Espectro e sombra, dois amantes, dois suspiros desencontrados,
Tu e eu, nenhum instante.

Eu, decadência insana, floreio vidas paralelas, poderosas,
Vidas perfeitas, enamoradas, belas,
Esqueço, humano, simples mortal, nada mais, fagulha acesa,
príncipe destronado, animal bípede, átomo casual,
atitude febril e estúpida, ser, apenas, isso, ser
Augusto dos Anjos e esquecer.

Acordo, mañana, perante ossos e esqueleto,
Enfrente, aonde vão meus olhos, além de horizontes e o sem fim.
Percepção, difusão de múltiplos sons
Ouvido calado, silencioso, silente.
Caminho em frente, marcha ancestral, como se nada houvesse para lembrar.
Apenas sulcos na areia, como dizia Antônio Machado?
Pernas, braços, corpo, coração
Pouco mais de inspiração.

Percebo, realidade, que sou só
grito, sentado, estranho rochedo, inferno de Dante ou de Milton,
Quem sabe, nas luzes e sombras, iluminações, Gustave Doré.

Quem, alma de outro mundo,
Questionar deuses, destino.
A mim, não foi dado amar, nessa vida
E nem conhecerei verdadeiro amor, jamais.

A mim, direito de viver e de responder crimes.
Lembra, vida que mendigasse sentimento das pessoas, meio do barro e da sujeira?
Outra, morreu pela espada da justiça?
Morreste incendiada em própria, e pobre, tenda, que te serviu de mortalha?
Lembra, rosto desfigurado, mostro de nascença, fera para humanos, morreste sob faina de porretes e pedradas?
Árvores pressentiram sofrimento e te socorreram nas folhas.

Mundo não é sofrimento, também vinho e mel.
Busco o norte,
impávida figura, que, na minha frente,
Máscaras e traições, buscam, comigo, soletrar um sobrenome de morte.

Uma reflexão sobre o amor impossível.

Bagé, 3 de fevereiro de 2006